A digitalização da gestão pública tem avançado em ritmo acelerado. No entanto, em meio a tanta inovação, existe um desafio muitas vezes ignorado: a exclusão digital das populações mais vulneráveis. Paradoxalmente, enquanto milhões de brasileiros têm acesso a smartphones e à internet, o uso dessas ferramentas nem sempre está associado ao exercício da cidadania ou ao acesso a serviços públicos de qualidade.

Brasil conectado, mas não necessariamente incluído
Segundo a Anatel, o Brasil possui mais de 250 milhões de celulares ativos — número que ultrapassa a população total. Dados da pesquisa TIC Domicílios (2023) revelam que 84% dos brasileiros acessam a internet via celular, especialmente nas classes C, D e E.
No entanto, esse uso está concentrado em redes sociais, entretenimento e, mais recentemente, jogos de apostas online, que movimentam bilhões e crescem com mais força justamente entre os mais pobres. O que poderia ser uma ponte para oportunidades muitas vezes se torna armadilha financeira e alienação.
Tecnologia como ferramenta de equidade
A verdadeira inclusão digital vai além do acesso. Ela precisa vir acompanhada de alfabetização digital, conectividade de qualidade e sistemas públicos intuitivos. Ferramentas municipais digitais que oferecem acesso a serviços de saúde, educação, emprego e assistência social têm potencial transformador, mas apenas se forem acessadas e compreendidas por quem mais precisa delas.
O papel dos governos locais
Cidades inteligentes não são apenas aquelas que automatizam processos — são as que democratizam o acesso a direitos. Prefeituras devem investir em:
- Campanhas de letramento digital em comunidades periféricas;
- Centros públicos de acesso à internet com tutoria para navegação em portais oficiais;
- Design de interfaces acessíveis e linguagem clara nos aplicativos públicos;
- Georreferenciamento de exclusões: saber onde estão os “desconectados” é o primeiro passo para incluí-los.
A inclusão digital é uma das maiores fronteiras para o avanço ético e justo das cidades inteligentes. A tecnologia não pode ser privilégio — ela deve ser um instrumento de empoderamento, dignidade e justiça social.